terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Check-up

Check-up
Este ano pretendo cumprir rigorosamente a resolução que tomei no fim do ano
passado: não mais tomar resoluções de ano-novo. Elas são promessas que fazemos à
nossa consciência em que nem a consciência acredita mais. A minha já estava
reagindo com bocejos a cada juramento que eu fazia para o ano-novo.
- Vou começar uma dieta. Séria, desta vez.
- Sei, sei.
- Vou ser tolerante, justo, sóbrio, equilibrado... e arrumar meus livros.
- Tudo bem.
- Fazer exercícios diários. Usar fio dental. Reler os clássicos. Não tudo ao mesmo
tempo, claro.
- Certo, certo.
Mesmo com ar de enfado, minha consciência não deixa de se submeter ao exame
anual que faço nela, sempre nos últimos dias de dezembro. Uma espécie de checkup
moral. Seu estado geral é bom. Não teve grandes provações no ano passado. Fiz
algumas coisas que não devia, não fiz outras que devia, nada grave. Vamos poder
continuar nos encarando - principalmente agora que eliminamos este ridículo ritual
das resoluções de fim de ano da nossa relação. O homem maduro é o que desiste da
virtude impossível para não perder a possível.
(Luis Fernando Verissimo, As mentiras que os Homens contam)

O Encontro

O Encontro
Ela o encontrou pensativo em frente aos vinhos importados. Quis virar, mas era
tarde, o carrinho dela parou junto ao pé dele. Ele a encarou, primeiro sem
expressão, depois com surpresa, depois com embaraço, e no fim os dois sorriram.
Tinham estado casados seis anos e separados, um. E aquela era a primeira vez que
se encontravam depois da separação. Sorriram e ele falou antes dela; quase falaram
ao mesmo tempo.
- Você está morando por aqui?
- Na casa do papai.
Na casa do papai! Ele sacudiu a cabeça, fingiu que arrumava alguma coisa dentro
do seu carrinho - enlatados, bolachas, muitas garrafas -, tudo para ela não ver que
ele estava muito emocionado.
Soubera da morte do ex-sogro, mas não se animara a ir ao enterro. Fora logo
depois da separação, ele não tivera coragem de ir dar condolências formais à mulher
que, uma semana antes, ele chamara de vaca. Como era mesmo que ele tinha dito?
"Tu és uma vaca sem coração!" Ela não tinha nada de vaca, era uma mulher esbelta,
mas não lhe ocorrera outro insulto. Fora a última palavra que lhe dissera. E ela o
chamara de farsante. Achou melhor não perguntar pela mãe dela.
- E você? - perguntou ela, ainda sorrindo.
Continuava bonita.
- Tenho um apartamento aqui perto.
Fizera bem em não ir ao enterro do velho. Melhor que o primeiro reencontro fosse
assim, informal, num supermercado, à noite. O que é que ela estaria fazendo ali
àquela hora?
- Você sempre faz compras de madrugada?
Meu Deus, pensou, será que ela vai tomar a pergunta como ironia?
Esse tinha sido um dos problemas do casamento, ele nunca sabia como ela ia
interpretar o que ele dizia. Por isso, ele a chamara de vaca no fim. Vaca não deixava
dúvidas de que ele a desprezava.
- Não, não. É que estou com uns amigos lá em casa, resolvemos fazer alguma
coisa para comer e não tinha nada em casa.
- Curioso, eu também tenho gente lá em casa e vim comprar bebidas, patê, essas
coisas.
- Gozado.
Ela dissera uns amigos. Seria alguém do seu tempo? A velha turma? Ele nunca
mais vira os antigos amigos do casal. Ela sempre fora mais social do que ele. Quem
sabe era um amigo? Ela era uma mulher bonita, esbelta, claro que podia ter
namorados, a vaca.
E ela estava pensando: ele odiava festas, odiava ter gente em casa. Programa,
para ele, era ir para a casa do papai jogar buraco. Agora tem amigos em casa. Ou
será uma amiga? Afinal ele ainda era moço... deixara a amiga no apartamento e
viera fazer compras. E comprava vinhos importados, o farsante.
Ele pensou: ela não sente minha falta. Tem a casa cheia de amigos. E na certa viu
que eu fiquei engasgado ao vê-la, pensa que eu sinto falta dela. Mas não vai ter essa
satisfação, não senhora.
- Meu estoque de bebidas não dura muito. Tem sempre gente lá em casa - disse
ele.
- Lá em casa também é uma festa atrás da outra.
- Você sempre gostou de festas.
- E você, não.
- A gente muda, né? Muda de hábitos...
- Tou vendo.
- Você não me reconheceria se viesse viver comigo outra vez.
Ela, ainda sorrindo:
- Que Deus me livre.
Os dois riram. Era um encontro informal.
Durante seis anos tinham se amado muito. Não podiam viver um sem o outro. Os
amigos diziam: esses dois, se um morrer o outro se suicida. Os amigos não sabiam
que havia sempre uma ameaça de mal-entendido com eles. Eles se amavam, mas
não se entendiam. Era como se o amor fosse mais forte porque substituía o
entendimento, tinha função acumulada. Ela interpretava o que ele dizia, ele não
queria dizer nada.
Passaram juntos pela caixa, ele não se ofereceu para pagar, afinal era com a
pensão que ele Ihe pagava que ela dava festas para uns amigos. Ele pensou em
perguntar pela mãe dela, ela pensou em perguntar se ele estava bem, se aquele
problema do ácido úrico não voltara, começaram os dois a falar ao mesmo tempo,
riram, depois se despediram sem dizer mais nada.
Quando ela chegou em casa ainda ouviu a mãe resmungar, da cama, que ela
precisava acabar com aquela história de fazer as compras de madrugada. Que ela
precisava ter amigos, fazer alguma coisa, em vez de ficar lamentando o marido
perdido.
Ela não disse nada. Guardou as compras antes de ir dormir.
Quando ele chegou ao apartamento, abriu uma lata de patê, o pacote de bolachas,
abriu o vinho português, ficou bebendo e comendo sozinho, até ter sono e aí foi
dormir.
Aquele farsante, pensou ela, antes de dormir.
Aquela vaca, pensou ele, antes de dormir.

(Luis Fernando Verissimo, As mentiras que os homens contam)

VEM ANO NOVO!

VEM ANO NOVO!

Sempre faço listas de desejos e metas, as primeiras continuo desejando, as segundas, nem sempre as cumpro.
Queria falar um monte de coisas bonitas aqui pra vocês, ou pelo menos engraçadas, mas não to conseguindo desenvolver muito bem.
No geral é: Vamos ficar menos tempo na internet e nos encontrar mais? Vamos ler aquele livro e ouvir aquelas musicas e sair para comentar? Vamos ter uma alimentação melhor, cuidar do corpo e da mente, mas sem deixar de lado o sagrado barzinho? Vamos assistir todas aquelas séries e aqueles filmes que estão anotados no caderninho? Vamos falar menos das dos outros ? Vamos visitar mais a família, os amigos e comparecer nos chás de bebes e festinhas de aniversário dazamiga ? Vamos tentar ser melhor a cada dia? Agradecer, compartilhar, pedir desculpas e tentar ser menos critico? Vamos dar mais abraços? Vamos parar de mimimi? Vamos ??
ENTÃO... VEM 2014!!! Feliz ano novo para vocês!